Muitos filhos só estão
de pé porque suas mães estão de joelhos. Homens
e mulheres que se destacaram e se tornaram “grandes” ao longo da História não
alcançariam tais posições não fosse por suas mães que lhes serviram de base,
exemplo, inspiração e força propulsora. Popularizou-se a frase de que “Por
detrás de grandes homens, estão grandes mulheres”, equivocado. Grandes homens
são gestados, gerados, educados e projetados por grandes mulheres, aliás, muito
da grandeza de tantos filhos são reflexos transparentes da grandeza de suas
mães (ou seus pais). É impressionante o paralelo da vida. Nossa vida começa com
nossa mãe nos carregando em seu ventre, depois em seu colo e, por fim, em seu
coração, pensamentos e orações sempre. Depois, a situação se “inverte”, somos
nós que “carregamos” nossos pais, os interiorizamos dentro de nós, quando
crianças são nossos modelos ideais, exemplos a serem imitados. Passamos por
aquela fase (a grande maioria) da adolescência rebelde, onde iludidamente
taxamos nossos pais como aqueles que “não sabem nada” e proclamamos “liberdade,
independência!”, mas quando chegamos à maturidade redescobrimos que na
realidade nós é que não sabemos de nada, eles têm os saberes que precisamos saber
a sabedoria que universidades, colégios e cursos não vendem, pois, é sabedoria
pura, resultado da faculdade da vida, não é o resultado de conhecimentos
teóricos adquiridos, mas da sabedoria amadurecida pela (s) experiência (s)
vivida (s). Nossos pais, especialmente, nossa mãe permanece em nós mais vivos,
pulsantes e influentes que possamos imaginar, aos academicamente rigorosos, as
ciências neurológicas e psíquicas comprovam isto: Psicologia, psicanálise,
neurociência, etc.
Muitos de nós certamente já ouvimos
falar de John Wesley, o notável ministro anglicano que se eternizou na História
como “A tocha tirada do fogo”, pois, saindo vivo de um incêndio que ocorreu em
sua casa, levando-a as cinzas, a criança (8 anos à época) saiu milagrosamente
ilesa, o fato foi um sinal indiscutível que o menino tirado do fogo era um
tição de Deus para incendiar o mundo. John Wesley se tornou um intelectual
respeitável, conseguiu com êxito a quase impossível tarefa de conciliar vida
acadêmica com uma vida cheia do Espírito Santo, sem jamais se esfriar. Elaborou
teologias, dissertou sobre temas complexos da fé, escreveu incansavelmente,
pregou para multidões cujas cifras fogem à pena, levou milhares de vidas ao
senhorio de Cristo, fundou (sem que essa fosse sua intenção primária) uma
sólida denominação evangélica (A Igreja Metodista), inspirou e ainda inspira
(inclusive a mim) milhões de pessoas ao redor do mundo, pois é um daqueles
homens que mesmo “depois de morto, ainda fala” (Hebreus 11.4). Todavia, o que
poucos sabem, e dos poucos que sabem, menos ainda assinalam é que a grandeza de
John Wesley é conseqüência direta da grandeza de sua amável mãe, a senhora
Susanna Wesley, a respeito de quem este artigo discorre em tributo.
Susanna
Wesley nasceu em 20 de Janeiro de 1669 em Epworth, Inglaterra, filha de um ministro puritano
(movimento de reforma/restauração da Igreja, família e Estado no século XVIII).
Como era de costume à época casou-se muito jovem também com um ministro da
Palavra, Samuel Wesley. Foi mãe de 19 filhos, dos quais, John Wesley era o 15°.
Seus biógrafos relatam que a vida de Susanna foi turbulenta. Viveu quase a
maior parte de sua vida a margem da miséria, enfrentando muitas dificuldades.
Seu marido, Samuel Wesley foi preso duas vezes por questões financeiras
(dívidas), duas das casas onde moraram pegaram fogo, sendo totalmente perdidas
por causa do incêndio e como se não bastasse, a exemplo de Jó- O personagem
bíblico popularmente conhecido por suas tribulações seqüenciais, paciência e
confiança em Deus, Susanna enterrou 10 dos 19 filhos que seu ventre gerou. Como
seu marido era um pregador itinerante (viajava muito), viveu momentos extensos
e intensos de solidão e angústia, tendo no Espírito Santo somente, o amigo fiel
com quem pôde compartilhar suas tristezas materializadas em lágrimas. Apesar de
todos esses infortúnios, a vida de Susanna Wesley é uma série de lições sobre a
vida cristã das quais podemos e precisamos aprender muito. A primeira
é sobre prioridade de tempo: Apesar de sua fragilidade física devido a
alguns problemas de saúde, os compromissos do lar no que tange a organização da
casa e educação dos filhos, etc., quando já era mãe de nove filhos Susanna
decidiu dedicar 2 horas diárias para uma devocional com Deus, período de
oração, louvores, quebrantamento e leitura assídua da Palavra de Deus (a
Bíblia), acontecesse o que for, houvesse o imprevisto que fosse, nada,
absolutamente, a fazia falhar em seu compromisso diário com Deus. Para tantos
as 22 horas do seu dia eram sustentadas por aquelas 2 horas diárias com Deus,
certamente. Susanna entendeu Mateus 6.33, a prioridade do Reino era pressuposto
de sua vida, como o salmista do salmo 42.1 a alma daquela mulher “suspirava,
ansiava, desejava Deus”, podia exclamar como o autor do salmo 84.10 “Um dia em
tua casa (presença) vale mais do que mil em qualquer outro lugar”, Susanna
Wesley era como aquela Maria que se deleitava em “Ficar aos pés do Senhor”
(Lucas 10.38-42), o que não significava que fosse negligente com seus
compromissos familiares, no lar, antes, entendeu o princípio da prioridade: primeiro o Reino (O Rei),
depois, as demais coisas. A segunda lição é sobre a dedicação
aos filhos: Susanna Wesley era uma mãe presente e atuante, compreendeu
com precisão o princípio de Provérbios 22.6 “Ensina a criança no caminho que se deve andar”, essa mãe
amorosa, não simplesmente indicava o caminho aos filhos, andava de mãos dadas
com eles no caminho. Mesmo com todos
os compromissos e afazeres, organizou seu tempo de modo que ela mesma
alfabetizou todos os filhos, ensinando-os a ler e escrever a partir da Bíblia,
educando-os como homens e mulheres, sobretudo, como homens e mulheres de Deus.
O quanto essa mulher tem a dizer aos pais de hoje (sem generalizar jamais)? Muitos
dos quais, “entregam” seus filhos aos “cuidados” das escolas (por vezes
dominadas por sistemas de pensamentos anticristãos e mundanos) ou mesmo à
televisão e as mídias sociais a ponto de se tornar válido a máxima
antropológica: “Muitos homens se parecem muito mais com sua época do que com
seus pais”, nossos filhos se tornam a “imagem e semelhança” de um mundo
secularizado e pervertido e tantos pais ainda terceirizam as responsabilidades,
buscando eximir-se. Susanna Wesley nos ensina que nossos filhos serão resultado
do tempo que investimos neles, ainda que não imediatamente, pois é verdade,
muitos filhos educados em contextos cristãos andam perdidos, mas a semente foi
germinada e ao seu tempo, fatalmente brotará e trará seus frutos (Eclesiastes
11.1). A terceira e última (abordada nesse artigo) é sobre a Fé
incondicional: Cabe reafirmar o fato de que a vida de Susanna foi
complexa, ela viveu tensões no lar, dificuldade financeira, perdeu 10 filhos,
mas sua fé foi incondicional. Essa mulher gigante cristalizou a
incondicionalidade do amor de Deus, isto é, absorveu a revelação bíblica de que
Deus nos ama não pelo que somos ou fazemos, mas porque Ele é amor, é a essência
de Deus materializada na pessoa de Cristo Jesus (João 3.16; Romanos 5.8). De
igual modo devemos corresponder a esse amor na incondicionalidade da nossa Fé,
ou seja, nossa confiança em Deus não deve ser movida pelas circunstâncias que
vivemos, mas pela confiança no Deus que cremos/temos. Em meio a todas as
“tempestades e/ou desertos” da sua vida uma frase clássica da irmã Susanna
evidencia sua fé inabalável em Deus “Ainda que o homem nasça para o
infortúnio, eu creio, todavia, que sejam raros os homens sobre a Terra,
considerado todo o curso da sua vida, que não tenham recebido mais misericórdia
do que aflições e muito mais prazeres do que dor. Todos os meus sofrimentos, pelo cuidado admirável do Deus Onipotente,
cooperaram para promover meu bem espiritual e eterno… Glória seja a ti, oh
Senhor!”
Deus
seja louvado pelo legado que nos deixou Susanna Wesley! Que Deus levante mais
“Sussanas” e conseqüentemente o mundo será presenteado com mais “Johns
Wesleys!”
“Na realidade, tudo o que sou, como cidadão, como
brasileiro, como homem público, à minha mãe o devo.”
Juscelino Kubitschek