quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Pentecostes: A gênese da Igreja Cristã


Pentecostes: A gênese da Igreja Cristã

As raízes da nossa fé são judaicas. Não por acaso, compreendemos pela fé, na hermenêutica apostólica de Paulo que toda a liturgia e ritualismo judaico veterotestamentario devem ser interpretados como “sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2.17), isto acentua a verdade de que devemos examinar as Escrituras, pois “elas testificam de Cristo” (João 5.39). Toda a Bíblia é Cristocêntrica, isto é, desde a Lei, perpassando pelos profetas, nos livros sapienciais e culminando nos enunciados apostólicos se concentra a pessoa de Cristo: seu nascimento, vida, morte e ressurreição triunfante. Mas o filho de Deus encarnado, o “verbo que se fez carne” (João 1.1), apesar de sua eternidade e preexistência, nasceu dentro de um contexto histórico cultural judaico. Nascido em Belém (Mateus 2.1-6), cresceu em Nazaré (Mateus 2.23), e com raras exceções (p. ex; Mateus 15.21-28) concentrou-se em dedicar seu ministério ao povo judeu. O próprio Senhor evidencia isso no diálogo com a mulher Cananéia quando lhe diz que “Eu não fui enviado senão as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus 15.24). João enfatiza tal premissa quando acentua que Ele “veio para o que era seu, mas os seus o rejeitaram” (João 1.11), não há qualquer embate teológico (sério) que desconsidere o termo “os seus” de João 1.11, como referência ao povo judeu. Paulo ratifica isso em sua epístola aos Romanos quando diz que “O Evangelho é o poder de Deus que opera para salvação de todo aquele que crê primeiro o judeu, depois o grego” (Romanos 1.16; grifo meu); Ainda escrevendo aos Romanos no complexo trecho (Caps. 9-11) em que trata da predestinação divina é precisamente a respeito do povo judeu que Paulo está falando. Eles são os sujeitos alcançados soberanamente pela predestinação divina, de tal maneira, que Paulo, a respeito do remanescente judeu fiel, afirma seguramente “Quanto ao Evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto a eleição, amados por causa dos pais; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Romanos 11.28-29), isto é, por causa do pacto de Deus com os pais (Abraão, Isaque e Jacó) os judeus são amados e estão seguros na irrevogabilidade do amor de Deus (o que por si só, destrói a falsa teologia da substituição, aclamada em certos Arrais teológicos).
É dentro deste contexto hebreu (judaico) que os mistérios da nossa fé surgem, se constroem e se revelam. Pentecostes era uma importante festa comemorativa judaica. Celebrada anualmente, realizava-se especificamente cinqüenta (de onde se deriva o nome da festa) dias após a celebração de pêssach (Páscoa), ou seja, a festa pela libertação da servidão egípcia (Êxodo 12-13). Dentro do calendário lunar dos hebreus, coincidia que a data de celebração de pentecostes ocorria com o período esperado da colheita do trigo, importantíssimo para uma sociedade agrícola como a judaica. Por propósito divino, a materialização da promessa de nosso Senhor a respeito de sua Igreja cujas “portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16.8), acontece exatamente quando “No dia de Pentecostes estavam todos reunidos no mesmo lugar” (Atos 2.1). Os feitos de Deus não são por acaso, como ponderara o sábio Salomão “Há tempo para todo propósito” (Eclesiastes 3.1). O tempo de Deus materializar sua Igreja na terra precisava ser exatamente no contexto judaico de pentecostes.
 Primeiro por que pentecostes pressupunha libertação (páscoa) e a Igreja era exatamente aqueles que outrora “estavam mortos em seus pecados” (Efésios 2.1-2), mas que “conheceram a verdade e a verdade os libertou” (João 8.32), o ajuntamento daqueles que ali estavam “reunidos no mesmo lugar”, a exemplo dos hebreus que saíram a pés enxutos do Egito na noite milagrosa em que o sangue do cordeiro pascal os livrara do anjo da morte (Êxodo 12.21-37), estes 120 também foram libertos da escravidão do mundo, do pecado e de suas vontades humanas irrefreáveis, estavam livres, pois como afirmou João, apóstolo de nosso Senhor “Se, pois o Filho vos libertar verdadeiramente sereis livres” (João 8.36). Cônscio dessa verdade foi que Paulo, posteriormente, escreveria aos irmãos de Colosso “Ele nos tirou do império das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13).
Segundo porque pentecostes era a celebração pela libertação, mas também a gratificante responsabilidade de trabalhar na colheita que vislumbrava nos campos. Esse simbolismo judaico tem muito a dizer a então jovem Igreja nascente. Fomos libertos, mas não devemos nos acomodar no contentamento alegre de termos sido libertos, temos agora a incumbência de realizar a colheita. Nosso Senhor havia exortado “Levantai os vossos olhos e vede os campos, que já estão prontos para a colheita” (João 4.35), pouco depois da ressurreição e antes da ascensão ordenou “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15), nas palavras de Mateus “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). O “Ide” e “Fazei” é a tradução do enigma de João 4.35, a colheita dos campos prontos é a responsabilidade de anunciar o Evangelho e “conquistar os pecadores para Cristo”.
É irrefutável, no plano eterno de Deus está à gênese da Igreja, afinal, nas palavras de Paulo aos Efésios, por essa Igreja “Cristo se deu” (Efésios 5.25) e João afirma que “O Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13.8), mas a materialização histórica e concreta do plano eterno e atemporal de Deus deu-se em Pentecostes. Numa perspectiva histórica (na qual estamos inseridos e limitados) em Pentecostes está a “fundação oficial” da Igreja, ali profecias se cumpriram, tais como Joel 2.28-29; Mateus 3.11; Marcos 1.8; Lucas 3.16; Lucas 24.49 e Atos 1.8. Ora, se os irmãos que se sentem herdeiros da reforma protestante no século XVI liderada por Martinho Lutero (1483-1546), não vêem problema em denominar-se “luteranos” (ainda que Lutero mesmo não aprovasse tal denominação) pela identificação com ele; e se aqueles que abraçam a estrutura hermenêutica de leitura cristã de João Calvino (1509-1564) sentem-se resolutos em categorizar-se como “calvinistas”, não temeria em dizer que não apenas eu, por abraçar o corpo doutrinário do cristianismo (na perspectiva pentecostal clássica), mas que biblicamente toda a Igreja de Cristo é geneticamente pentecostal.   

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