quinta-feira, 6 de abril de 2017

Devocional: A Viva Esperança que não nos deixa desistir!

           
       
           Ao redor do mundo contemporâneo crise é a palavra mais pronunciada, indubitavelmente. Na sofisticada Europa, no crescente Tigre asiático, no poderoso EUA e nas terras latino-americanas, inclusive, no Brasil, a realidade ou o imaginário da crise perpassa as mais diversificadas mentes e casas. Famílias desestabilizadas, casamentos abalados, recursos escassos são reflexos dos colapsos econômicos que estremecem os alicerces globais. Desemprego, desilusão e desesperança são latentes em milhões de pessoas ao redor do mundo, de igual modo no Brasil, onde os jornais impressos ou televisivos noticiam a cifra/ margem de mais de 14 milhões de desempregados. Como o cristão deve enxergar essa situação? Como a Palavra de Deus nos conduz a perceber esses períodos de crise que assolaram e assolam nações ao longo da História ao redor do mundo e hoje no nosso próprio país? De maneira objetiva é o que vamos procurar ver/refletir nesse devocional.
            Em primeiro lugar é importante não perder de vista a soberania de Deus. O descontrole governamental das autoridades políticas, administrativas ou militares jamais serão reflexos de um suposto descontrole de Deus. As Escrituras revelam que Deus é o criador deste mundo (Gênesis 1-2), o salmista proclama o fato de que “Do Senhor é a terra e toda a sua plenitude” (Salmo 24.1), nas palavras do profeta Ageu, Deus é “Dono do ouro e da prata” (2.7), enquanto o autor de Hebreus assinala o fato de que Deus “Fundou a terra, e os céus são obras de tuas mãos” (1.10). Ao contrário da perspectiva Deísta que entende Deus meramente como o princípio criador que gerou todas as coisas e estabeleceu leis físicas que regem a criação, sem jamais, interferir nela, a posição bíblica revela Deus não apenas como o criador, mas como plenamente participativo no panorama criacional. Ele é denominado o “Alfa e Ômega” (Apocalipse 1.8), haja vista, o fato de que perpassa do princípio ao final da história temporal da criação. Se para o célebre historiador Marc Bloch (1886-1944) a História é a ”Ciência dos homens no tempo”, eu definiria que a História (na perspectiva bíblica) é a “Revelação progressiva de Deus no tempo”. Deus é atemporal, pois é Eterno (I Timóteo 6.16), mas a História é exatamente a temporalização do Eterno, evidenciado, no “Verbo que se fez carne” (João 1.14), portanto, é o Eterno se inserindo na temporalidade para se revelar progressivamente à sua criação. No cristianismo, a transcendência de Deus, isto é, Ele é o “totalmente Outro” e sua imanência, ou seja, Ele é “plenamente imanente a nós” não são dicotomias, mas convergências dialógicas, realidade materializada no fato supracitado de que “O Verbo (que era Deus) se fez carne” (João 1.1). Portanto, Deus é senhor da História.
            Possivelmente, influenciado pela leitura dicotômica existencial de Platão, muitos círculos teológicos desenham um “conflito cósmico” entre bem e mal, luz e trevas representado por Deus e o diabo, como se ambos fossem forças antagônicas conflitantes entre si travando um combate cataclísmico. Que o diabo é a incorporação e a representação do mal/trevas é fato bíblico, foi por sua sedução maliciosa que Adão e Eva pecaram (Gênesis 3), sua atuação no mundo culmina em tragédias e destruições das mais diversificadas, aliás, Jesus expulsou muitos demônios, haja vista sua missão messiânica de “libertar os cativos” (Isaías 11.1-2) e ordenou aos discípulos que também o fizessem (Mateus 10.1-11), afirmou, outrossim, que “Lhes deu poder e autoridade” (Lucas 10.19) a despeito dos demônios. Não estou negando a realidade tangível do mal. Mas mesmo o mal é subserviente ao poderio de Deus, satã não é um agente livre que realiza o que quer ao seu bel-prazer, a história de Jó é um bom exemplo disto. Desejoso de tentar Jó- “Homem integro e reto” (1.11), o maligno precisou “pedir a Deus permissão para tocá-lo” (2.1-7). Gosto do que Martinho Lutero (1483-1546) disse, a saber, que “O diabo é apenas um cão raivoso preso na coleira de Deus”. Não insinuo desconsideramos o poder (outorgado por Deus) que este ser maligno possui, antes, apenas, lembrar-nos que o poder que satã possui é diminuto e subserviente ao único que detém “Todo poder e autoridade” (Mateus 28.18), a respeito de quem todas as coisas lhe estão submissas. O que também não infere que Deus seja o autor do mal. O mal é resultado da livre escolha humana que legaliza a atuação do mesmo sobre si, como Paulo bem ponderou “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23), assim, fica explícito, que as conseqüências trágicas resultam das decisões tolas. Mas a atuação do mal não inibe a soberania de Deus. Aliás, uma informação é importante. A palavra hebraica para mundo é Olam derivada de hêlem que significa ocultação. Que mensagem maravilhosa! O mundo oculta Deus, por trás de tudo isso, está o Senhor de toda a criação, não distante, mas, operante.

            Conscientes dessa soberania de Deus é preciso atentar para mais dois fatos. O primeiro é que Deus tem uma aliança com seu povo Israel (Êxodo 19-24) e com a Igreja enxertada mediante o sacrifício vicário de Cristo (Mateus 27.51; Romanos 11.1-31). Sem delongar, basta lermos sobre o cuidado e o zelo de Deus com seu povo durante o período das “Dez pragas” no Egito, enquanto os egípcios eram assolados, Israel desfrutava de livramento. Todavia, ao contrário de tantas pseudo-teologias triunfalistas, é fundamental observar que mesmo o povo da aliança, ou seja, o povo de Deus não está imune às crises e situações adversas. Nossa desobediência e obstinação podem nos levar a esses momentos turbulentos. Por outro lado, o próprio Deus pode nos conduzir “aos desertos da vida” (Deuteronômio 8.1-4; Mateus 4.1-11), simplesmente a fim de nos “provar”, e antes que alguém pense ser isto mero “capricho de um Deus tirano e vaidoso”, não é, antes revela o amor de Deus em usar pedagogicamente as adversidades da vida para que amadureçamos e sejamos aperfeiçoados para um propósito maior que às vezes são ocultados e só o tempo ou a eternidade nos revelará. Paulo, nosso apóstolo (aos gentios), relata aos Coríntios que passou várias necessidades, mesmo “Fome, sede, nudez, etc.” (I Coríntios 4.11-13). Assim, como manter viva a esperança em tempos de desesperança? Primeiro creia na soberania de Deus e confie que há um propósito pedagógico na permissividade de Deus em relação às situações adversas de sua vida, o mesmo Paulo que, por permissão de Deus, enfrentou tudo aquilo, posteriormente disse “Aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter em abundância; em toda maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4.11-13). Que lindo! Paulo compreendeu que “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28) e nós também precisamos entender que nossa vida não será somente “vitória”, mas Deus usa as nossas derrotas, frustrações, perdas, etc., visando um propósito maior. Por fim (e a esse respeito valeria outro artigo) precisamos resgatar os fundamentos da nossa fé: Quem somos? Porque estamos aqui? E para onde vamos? Se soubermos que somos filhos de Deus em Cristo (João 1.11-12) que estamos aqui de forma passageira (Filipenses 3.20) e que vamos para um lugar onde as Escrituras prometem que “Deus enxugará dos nossos olhos todas as lágrimas” (Apocalipse 21.4), somente então nos desfaremos do mundanismo e materialismo exacerbado que por vezes se assenhoreou dos nossos corações, voltaremos como bem disse John Bunyan (1628-1688) a sermos “peregrinos em caminhada indesistível ao céu”, conscientes que “As aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8.18) e então, somente então, compreenderemos o que Pedro disse “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo entre os mortos” (I Pedro 1.3). Alegre-se! Nossa esperança é/está viva!

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